
O pior tackle da história
Para entender Siya Kolisi como um ícone para a nova geração de jovens africanos, é essencial revisar a história do Rugby na África do Sul. No país mais desenvolvido do continente africano, o rugby é tão popular quanto o futebol no Brasil. Contudo, a trajetória da seleção nacional, os Springboks, já foi a outra face da moeda do apartheid e da supremacia branca sul-africana. O rugby, tradicionalmente associado à masculinidade e força física, desempenhou um papel simbólico no contexto da discriminação racial. Os Springboks eram rejeitados pela maioria negra numa época em que a excluir pessoas não brancas era tão permitido quanto é o tackle no rugby. O tackle é aquele golpe que serve para derrubar o adversário e tomar a bola ou impedi-lo de avançar.
A reviravolta da Copa do Mundo de Rugby de 1995
A África do Sul era a anfitriã do torneio, e o ápice dessa história foi marcado por uma atitude admirável de Mandela. Vestindo o uniforme verde e ouro dos Springboks. Ele entrou em campo e entregou a taça da vitória ao capitão François Pienaar, construindo assim uma imagem icônica de reconciliação e superação.
Uma das principais iniciativas de Mandela foi a fundação da Comissão da Verdade. Essa instituição revelou as histórias e experiências de vítimas e algozes de um regime político que segregou negros e brancos por quatro décadas (1948 – 1994).
Um Placar ainda desfavorável
Mas voltando para o campo de batalha, vamos falar de um placar nada favorável no jogo da inclusão. Embora o esporte ter servido como um símbolo de reconciliação na África do Sul pós-apartheid, a integração de jogadores negros nas equipes nunca foi tarefa fácil. Chester Williams foi o único atleta não-branco na Copa de 1995. Desde então, o caminho da inclusão foi trilhado por um número limitado de esportistas negros que lutaram contra estereótipos e barreiras sociais para brilhar no rugby nacional. Alguns destaques são Errol Tobias, Makazole Mapimpi e Bryan Habana, cuja velocidade e habilidade fizeram dele um dos maiores pontuadores do rugby internacional.
Siya Kolisi: O Melhor Try da história
Mas o grande try (gol no rugby) nessa trajetória da inclusão, foi a do jogador Siya Kolisi, que, em 2019, rompeu um teto de vidro histórico, tornando-se o primeiro capitão negro da seleção nacional em uma Copa do Mundo de Rugby. A liderança de Kolisi na conquista do mundial, sediado no Japão, em 2019, solidificou seu status como jogador de classe mundial.
Desde então, ele tem se destacado na mídia internacional, atraindo atenção não só por suas habilidades em campo, mas também pela liderança e carisma que exibe fora dele. Apesar de suas ações filantrópicas serem silenciosas, sua grande conquista já é uma evidência: impulsionar o rugby nas townships (assentamentos informais, como as favelas), onde qualquer terreno baldio, tem se tornado um campo improvisado.

O próprio Kolisi nasceu e cresceu na township de Zwide, em Porto Ellizabeth. Conheceu a pobreza de perto, mas antes mesmo de ganhar reconhecimento mundial, já era ativo em times de rugby locais, treinando futuros talentos. Além disso, ele desenvolve um intenso trabalho na comunidade de Zwide através de sua Fundação. Além de programas de desenvolvimento esportivo, a Kolisi Foundation desenvolve um programa de segurança alimentar e outro de prevenção de violência de gênero.
O triunfo dos Springboks no mundial de 2023, conquistado em uma acirrada disputa contra um histórico adversário, reforça o sentimento de orgulho e o potencial de crescimento que o esporte oferece nessas comunidades.
Kolisi, estamos de olho em você!
Para turbinar seu entendimento sobre Siya Kolisi e a história do rugby na África do Sul:
Invictus — dirigido por Clint Eastwood, produzido pela Warner Bros, 2009.
Rise: The Siya Kolisi Story — dirigido e produzido por Tebogo Malope. 2023. Não disponível no Brasil
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