Viajar para algum destino no continente africano é bem caro, e nós sabemos! Na conta tem as passagens aéreas, planejamento da viagem, estadia, alimentação, transporte, e a lista não para. Mas, sabia que é possível se conectar com a África estando aqui no Brasil?
Os laços entre o Brasil e África são históricos, o que rendeu diversas possibilidades de conexão com a ancestralidade negra, dentre elas, por meio do afroturismo cujo objetivo é destacar a cultura negra e promover a inclusão e diversidade no setor de turismo. Além disso, o afroturismo também é responsável por tornar mais segura a experiência de viajantes negros pelo Brasil por meio de ações afirmativas e de acolhimento da população preta, seja pelo meio urbano ou rural.
A cidade escolhida para o primeiro roteiro afroturístico da Briza foi Salvador, berço de uma riqueza cultural ligada a ancestralidade que se manifesta na cultura, arte e religião. Uma curiosidade: conforme os últimos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com mais de 80% da população negra, a capital baiana é considerada como a cidade mais preta e africana do Brasil.
Este município é cercado por praias e a sua gastronomia tem uma mistura de todos os cantos do mundo, porém, o azeite de dendê, castanha de caju e amendoim são temperos quase que permanentes e que ajudam a identificação dessa culinária. Já a religiosidade afro-brasileira, foi consolidada nos anos de 1920 com a frase “Roma Negra” cunhada pela famosa Babalorixá Mãe Aninha ao se referir a urbe como centro difusor da religião de matriz africana no Brasil. Mãe Aninha, é filha de africanos e nascida em Salvador em 1869 e fundadora do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, hoje considerado como Patrimônio Histórico Nacional.
Agora que estão apresentados à cidade, vamos aos lugares selecionados para turistar por Salvador, enquanto enriquece a sua bagagem cultural. Confira:
1. Museu Afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia

Este museu, inaugurado em janeiro de 1982, possui um acervo de mais de 1100 peças de cultura material africana e afro-brasileira contribuindo ativamente para a divulgação e preservação destas matrizes culturais.
O acervo conta com: coleção Religiosidade Afro-brasileira, principalmente ligadas ao candomblé baiano, com predominância de objetos das tradições orubá e fon, a partir de elementos das nações nagôs, ketu e jeje; Coleção Artes Plásticas, obras de arte que tratam diferentes temas, produzidas pelos artistas Carybé, Hélio de Oliveira, Manoel do Bomfim, Francisco Santos, Terciliano Jr, Emanoel Araújo, entre outros; Coleção Blocos Afros e Folguedos, com artefatos ligados ao carnaval afro-baiano; Coleção capoeira; 27 Painéis de Carybé, que representam os orixás do candomblé da Bahia; Coleção Instrumentos Musicais, Tecelagem, máscaras, esculturas e muito mais.
Onde fica: Terreiro de Jesus, Centro Histórico de Salvador (funciona no prédio histórico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia).
Horário de funcionamento: De segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 9h às 17h.
Valor de entrada: R$10 (inteira) | R$5 (meia-entrada) – somente em espécie.
Contato: Visita mediada para grupos com agendamento prévio através do e-mail: educativo.mafro@gmail.com | (71) 3283-5540 | http://www.mafro.ceao.ufba.br/visitacao
2. Casa do Benin




A Casa do Benin é resultado do intercâmbio mantido entre a Bahia e o país africano Benin, através da cidade de Cotonou, inaugurada em 1988, ano centenário da abolição da escravatura.
Focando um pouco mais na história deste museu, o nome “Benin” foi pensado por ser, na época escravocrata, um dos países onde um maior número de pessoas foi traficado da África para o Brasil. Outra fonte de inspiração para “bater o martelo” com o nome Benin, foi devido às ações do escritor, etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger, que após diversas contribuições à cidade de Salvador, foi convidado a pensar nesse projeto e fez ligação com o seu livro Fluxo e Refluxos, fazendo menção ao período de escravidão e o tráfico de escravos entre o Benin e a Baía de Todos os Santos.
Uma das grandes propostas da criação da casa era a inserção e intercâmbio entre artistas, pesquisadores beninenses e brasileiros a fim de resgatar e produzir conhecimentos e artes afro diaspóricas. Tanto que, curiosidade: para que isso fosse possível, em Benin, foi construída a Casa do Brasil.
Atualmente, a casa abriga uma rica coleção de objetos e obras de arte da região do Golfo de Benin, de onde veio a maioria dos negros que povoaram o Recôncavo Baiano. A maior parte do acervo foi colecionada pelo antropólogo e fotógrafo francês Pierre Verger em suas caminhadas pelo continente africano. O espaço, também abriga exposições temporárias e oficinas artísticas.
Onde fica: Rua Padre Agostinho Gomes, Pelourinho, Centro Histórico de Salvador.
Horário de funcionamento: De terça a sexta-feira, das 10h às 17h, e aos sábados, das 09h às 16h.
Valor de entrada: gratuita
Contato/ Mídias Sociais: @casadobenin
3. Busto de Nelson Mandela

Este é um pedacinho da África do Sul em Salvador, e tem história! Nos primeiros dias de agosto de 1991, a capital baiana se preparava para receber uma das maiores lideranças mundiais contra o racismo e da luta por igualdade: o sul-africano Nelson Mandela.
Mandela foi recebido desde o aeroporto com uma frase utilizada por milhares de baianos: “Axé, Mandela! A casa é sua, irmão”.
Nelson Rolihlahla Mandela, se formou em direito e ainda jovem, se envolveu na oposição ao regime racista do apartheid, que negava aos negros direitos políticos, econômicos e sociais. Foi preso em agosto de 1962, e em 64, foi sentenciado à prisão perpétua por planejar ações armadas, em particular, sabotagem e conspiração para ajudar outros países a invadirem a África do Sul. Continuou preso até 1990, quando a campanha do Congresso Nacional Africano (CNA) e a pressão internacional conseguiram fazer com que ele fosse liberto em 11 de fevereiro.
Em 1993, Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz. Comandou a transição do regime de minoria no comando, o apartheid, ganhando o respeito internacional por sua luta em prol da conciliação interna e externa. E veio a falecer em Johanesburgo, em 05 de dezembro de 2013.
O busto em bronze fundido deste líder político está localizado no bairro da Liberdade, em frente ao Plano Inclinado, e se for conhecer a sede Bloco Afro Ilê Aiyê, no Curuzu, vai encontrar outra homenagem.
Notasse que Salvador é um conjunto de pedacinhos do continente africano, e que por meio de museus, eventos, exposições, blocos culturais e canções, há a tentativa de manter viva fragmentos da história do povo preto que luta por seus direitos, pela sua cultura, crenças e costumes.
E através destas indicações, esperamos que você conheça um pouco da história do povo africano e, que para além do conhecimento, desperte a curiosidade para conhecer um país africano de perto e todas as suas belezas naturais, gastronômicas e sociais.
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